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domingo, 13 de março de 2011

Artigo Gazeta do Sul - Bio campanha da fraternidade 2011

Logo adiante de Manaus, as águas do Rio Negro se juntam às do Solimões. Pois foi ali que a CNBB lançou a Campanha da Fraternidade deste ano. Não poderia haver lugar mais adequado e repleto de simbolismo do que este. A abertura ocorreu numa balsa, integrada à natureza, com a simplicidade da grandeza das águas do porte amazônico. Quanto orgulho, quanta correria, quanta obsessão pelo acúmulo de bens, quanta necessidade desnecessária criada, quanta superficialidade ostentatória precisa ser lavada nas águas que nutrem a vida, motivação maior da atual campanha.
Se simples, portanto notável, o lançamento da campanha a favor da vida acontece no momento oportuno. Quando secas como a da região de Bagé, contrastando com as enchentes de São Lourenço, aliadas a eventos do tamanho do Tsunami de Tóquio e a tantas outras demonstrações de alterações climáticas se somam, não há como não refletir sobre a causa de tudo isto. Há uma tendência que nos traz um falso conforto civilizatório em dizermos que os eventos catastróficos sempre ocorreram, mesmo quando os humanos nem existiam sobre o Planeta. Os humanos têm sido muito pródigos em justificar suas investidas contra a natureza, com as argumentações que a razão nos proporciona. Contudo, basta fecharmos os olhos na entrada da noite, quando os raros momentos de silêncio ainda nos são permitidos, para sabermos que nós humanos estamos interferindo fortemente no equilíbrio da natureza. Quando secamos várzeas tiramos o lugar das águas, quando derrubamos a flora desabrigamos a biodiversidade, quando queimamos combustíveis aquecemos a atmosfera. Se fenômenos de catástrofe sempre ocorreram, nós os aceleramos e provocamos como algozes de nós mesmos.

Quando do final da Eco–92, há 19 anos, mais uma razão da oportunidade da campanha, uma vez que se prepara a Rio+20 para o ano que vem, no auditório vazio do evento que reuniu 179 países, quase todos signatários da “Agenda 21”, fez-se um silêncio do tamanho do mundo. Das cadeiras vazias emanava um sentimento de que não havia mais inocentes. Todos nós, em diferentes proporções e medidas, senão diretamente, mas até por conivência, somos co-responsáveis pelos desmandos ambientais. Portanto, a Campanha da Fraternidade é uma campanha de todos.
Como as águas do Rio Negro que se juntam às do Solimões, assim também nós somos convidados a nos somarmos a todas as criaturas da Criação Universal. Do silêncio das cadeiras vazias do final da Eco–92 ergue-se o grito das dores de parto da atual campanha pela vida, da qual não somos donos nem gestores, mas sim conviventes.

José Alberto Wenzel/Geólogo da Fepam

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